Assunção havia-se transformado na pérola das colônias espanholas na América. O General Irala, que numa conspiração derrubara o segundo adelantado (governador de província) e estendera seus domínios às planuras do Pampa, aos contrafortes dos Andes e até Sierra Encantada-Peru, ao Norte, investiu para o Leste e chegou, em 1554, às terras de Guaíra, atual Paraná. Ali foi recebido por 300.000 guaranis com alegria e hospitalidade, como narra Barbosa Lessa em seu livro “História do Chimarrão”. Além da acolhida, o que chamou a atenção foi que os índios de Guaíra eram mais fortes do que os guaranis de qualquer outra região, mais alegres e dóceis. Entre seus hábitos, havia o uso de uma bebida feita com folhas fragmentadas, tomadas em um pequeno porongo por meio de um canudo de taquara na base um trançado de fibras para impedir que as partículas das folhas fossem ingeridas. Os guaranis chamavam-na de caá-i (água de erva saborosa) e dizem que seu uso fora transmitido por tupã.
Os conquistadores provaram o chimarrão e realmente o acharam saboroso e alguns poucos goles davam uma sensação de bem-estar ao organismo. De volta a Assunção, os soldados de Irala levaram um bom carregamento de erva. Em pouco tempo, o comércio da erva-mate se tornava o mais rendoso da Colônia. O uso do chimarrão se estendeu às margens do Prata, conquistou Buenos Aires, transpôs os Andes, chegou a Potosi, enriquecendo os donos do Paraguai. Assunção dobrou de população e de tamanho. As fortunas se agigantavam.
O chimarrão também fez a riqueza dos jesuítas que se estabeleceram no Guaíra, ao sul do Paranapanema e nos Sete Povos, à margem oriental do Uruguai. Fazendo plantio de ervais, depois de fracassos iniciais para germinar a semente, os jesuítas inventaram a caá-mini, pó grosso de erva-mate, que passou a valer três vezes mais e, com sua exportação, ganharam muito dinheiro, trazendo um período de opulência para os Sete Povos e as Missões.
Os bandeirantes invadiram as Missões do Guaíra em 1638, descobriram também a erva-mate e a levaram para São Vicente. Por sua vez, os tropeiros que vinham de Minas Gerais para comprar mulas nos Campos Gerais, voltavam com grandes carregamentos de erva-mate. Assim, o chimarrão se espalhava e todos que o sorviam aprovavam o seu uso.
Quando, em 1813, o ditador paraguaio, Dr. Francia, proibiu as exportações de erva-mate, o Brasil se tornou o único produtor e exportador de chimarrão. Comerciantes paraguaios e espanhóis vieram instalar-se no Paraná, trazendo engenhos de soque. Com a abertura da estrada Serra Graciosa, em 1876, Curitiba se tornou um centro de exportação, transformando a erva-mate em uma das maiores riquezas nacionais. Com a decisão da questão dos limites de Missões, em 1910, o presidente dos Estados Unidos, escolhido como árbitro, julgou o caso a favor da Argentina e lá se foi uma boa parte de nossa região ervateira, a única até hoje daquele país, na província de Misiones.
Os argentinos descobriram o segredo que havia sido guardado com os jesuítas de como fazer germinar a semente e plantaram seus ervais que, em pouco tempo, se estendiam em milhares de pés pelo território de Misiones. No primeiro ano da colheita, 1914, alcançavam 3 milhões de quilos e, vinte anos depois, atingiam os 7 milhões de quilos. Atualmente, a Argentina é o maio exportador, com 38 mil toneladas, em 1995 e o maior produtor com 780 mil toneladas. Em segundo vem o Brasil com 550 mil toneladas produzidas e 26.422 exportada nesse mesmo ano. O outro país que desenvolve a cultura é o Paraguai, com uma produção de 64 mil toneladas e 112 toneladas exportadas, segundo dados dos anais do III Encontro Nacional sobre a Cultura da Erva-Mate. (25.4.1990 Erechim – RS.)
O chimarrão também é consumido no Chile e no Uruguai, que apresenta o maior consumo per capita 810 kg/hab/ano, enquanto na Argentina se situa ao redor de 6,5 kg/hab/ano e, na região sul do Brasil, entre 3 e 5 kg/hab/ano. O principal consumidor externo é o Uruguai, que responde por cerca de 80% das exportações brasileiras, enquanto o principal importador da Argentina é a Síria, consumindo cerca de 38% de suas exportações, seguida pelo Brasil com 32%. A erva-mate é ainda exportada para Estados Unidos, Europa e Oriente Médio.
Essa imensa riqueza tem 85% de sua área de distribuição geográfica concentrada nos três Estados do Sul do Brasil. Todos os que experimentam aprovam seu sabor e seus efeitos estimulantes e tonificantes. Por isso, seu consumo tem-se espalhado pelo mundo. Atualmente, uma bebida energética – Blue Energy – feita nos Estados Unidos com erva procedente da Alemanha, é muito consumida em boates brasileiras. Além do tradicional chimarrão e chás, verifica-se evolução no mercado para produtos derivados de erva-mate e, especialmente os prontos para beber, ressaltando-se o fato de serem naturais, o que atrai o consumidor. Há, pois, um campo enorme para crescimento do consumo da erva-mate, tanto no Brasil como no exterior.
Por outro lado, existem pesquisas e tecnologias disponíveis que permitem melhorar o padrão do chimarrão produzido e aumentar a sua produção, através do adensamento dos ervais nativos ou do plantio de novos ervais. O beneficiamento do chimarrão está sendo modernizado e outras pesquisas vêm sendo buscadas em termos de mercado, usos alternativos e qualidade de produção. O certo é que os tempos de esplendor experimentados em Assunção, nas Missões Jesuíticas, no Paraná podem ser revividos. Basta que a indústria nacional do chimarrão se una e explore esse marketing fabuloso que a caá-i traz em seu âmago.
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